UM OLHAR SOBRE O CIRIACO
O sol ainda estava nascendo e os primeiros raios anunciavam o dia inédito que estava por vir. O destino era a Reserva Extrativista do Ciriaco, uma comunidade localizada no município de Cidelândia-MA, que vive da extração do coco babaçu na sua forma tradicional e preservacionista.
A princípio, o objetivo da visita era acompanhar Júnior Mendes, acadêmico do Curso de Direito da UFG, em um seminário sobre Direito Humanos e o Acesso à Terra, mas no transcorrer do dia percebi que a maior lição aprendida naquele local, não seria para aqueles jovens que se reuniram na sede da ATARECO - Associação dos trabalhadores agroextrativistas de reserva extrativista do Ciriaco, e sim para mim, professora da educação básica que aprendeu em um dia de convívio com aquelas pessoas, o que não pode captar em anos de estudo bibliográfico.
A comunidade do Ciriaco é muito simples e pacata, como muitas outras que devem existir nestes rincões maranhenses, formada por gente humilde e trabalhadora que sonha com um futuro melhor e que pouco conhece sobre a história deste lugar que os acolheu ou de onde nunca saíram.
O seminário ao qual fiz referência faz parte do Projeto da Pedagoga e fotógrafa Vanusa Babaçu, intitulado “Um inventário histórico e social da Comunidade de Trabalhadores Agroextrativistas da Reserva Extrativista do Ciriaco”, onde os jovens da comunidade, embasados pelo conhecimento adquirido em vários seminários, deverão conhecer um pouco mais sobre suas origens e da localidade em que vivem, para que assim possam conhecer e reconhecer sua própria identidade e consequentemente elaborar o inventário a que se propõe o projeto, através de fotografias.
Durante o dia, a juventude participou ativamente do seminário, que em muitos momentos, transformou-se em uma conversa agradável e informal, onde todos compartilhavam suas experiências, seus anseios e seus sonhos de um futuro diferente para si e para o Ciriaco.
Durante o almoço simples, mas saboroso, na casa dos jovens que nos recebiam, tive um acolhimento repleto de calor humano e de lições de vida. Ouvir as histórias daquelas pessoas que tanto tinham a ensinar, fez-me ver como este país precisa valorizar sua gente. Após o almoço, o balançar na rede para cesta embalada pelo vento que agitava os babaçuais despertou em mim muita paz de espírito, o estresse urbano dissipou-se naquele momento.
No turno da tarde, o calor tipicamente maranhense nos convidou para a beira do brejo, fomos para o ponto de lazer mais apreciado pelos moradores locais, o “Mastigado da Jumenta”, onde pude perceber a identificação da comunidade com o ambiente, todos se sentiram muito mais à vontade ali.
Muitos questionamentos foram colocados, pude perceber o quão aqueles jovens anseiam por conhecimento e ao mesmo tempo como já têm o que ensinar, apesar da pouca idade.
Fui agraciada com lições de como é a vida em uma comunidade, onde todos se conhecem pelo nome, onde todos se cumprimentam, compartilham dos mesmos problemas e dos mesmos sonhos, discutem e divergem também, mas que acima de tudo se respeitam. Trouxe de Ciriaco uma bagagem bem maior do que a que levei, repleta de respeito por aquelas pessoas, de admiração pela maneira com que enfrentam a vida e de ternura pelas palavras de uma juventude tão sensível que é capaz de exprimir em poesias, o cotidiano que lhes cerca.
Ciriaco me deixou saudades, espero em breve poder retornar!
Sheryda Lila de Souza Carvalho
Professora de geografia (IFMA)
Acadêmica de Direito (UFMA)
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